sábado, 27 de agosto de 2016

Ansiedade de separação - parte 1

Escrevi este post ano passado, deixei ele nos rascunhos e fui acrescentando algumas informações aos poucos. No fim foi tanta coisa que resolvi publicar só agora a primeira parte com a primeira fase do problema e em breve farei outra com a atualização da situação!

Todos os meus cachorros tem isso, fato. Somos donos nada exemplares: a gente quer ficar com eles o tempo todo, mimar, falar com voz fina, é uma droga. A Kellynha e a Bu ficam dentro de casa, quando a gente sai uma tem a outra, e mesmo assim elas surtam um pouco. A Bu ataca qualquer chinelo que estiver dando mole e a Kellynha começa a latir por qualquer motivo e continua ad infinitum, com aquela vozinha fina irritante. Ambas fazem uma festa fora do comum quando a gente chega e, só pra piorar mais um pouco, o pessoal gosta e continua incentivando a prática.

O Luke tinha um pouco disso, uivava sempre que via minha mãe saindo para o mercado ou às vezes quando eu saía a pé de casa (nunca quando estava de carro) e, diziam lendas, que ele ficava um tempão no portão me esperando ou checando muitas vezes se eu estava voltando. A festinha dele era normal e, como ele ficava a maior parte do tempo na garagem sozinho, achei que ele fosse mais centrado que as outras duas.
E eu estava terrivelmente errada.

Não sei se foi por causa da viagem (que deve ter sido ruim) de avião, mas com certeza tem a ver com o fato de estar em um lugar totalmente novo, sem visibilidade direta para a rua e sem ver uma penca de rostos conhecidos. Quando eu e o meu noivo saíamos do apartamento, ele tinha certeza absoluta que estava sozinho e entrava em pânico total. Era só ele ver que nós dois saímos ao mesmo tempo e já começava a uivar no primeiro minuto (descobrimos isso deixando um celular gravando o áudio), aí choramingava, aí parava pra respirar e continuava o ciclo em looping infinito.

Se fosse só o barulho, apesar de atrapalhar os vizinhos, até que não estaria ruim. O foda é que ele já fuçou o lixo, fez coco na cozinha, destruiu algumas caixas (uma delas de panetone, ainda bem que não afetou o conteúdo!), comeu a parte debaixo da persiana e o último e pior estrago foi ter arrancado uma parte do carpete, arranhado a porta, o batente e deformado a fechadura (aparentemente ele queria abrir a porta de alguma maneira). Além de ser prejuízo financeiro chato e fazer meu noivo passar por esse nervoso, ainda tem a parte que na verdade ele sofre muito com isso. São minutos, horas em estado de pânico sem sentido, sem pausas.

Desde que descobrimos o problema comecei tentar alguns exercícios diários com ele que li na internet, alguns foram muito bons e outros nem tanto, mas acho válido listar todos:

- Evito que ele fique muito tempo no mesmo cômodo com alguém
- Não deixo ele ficar muito tempo com muitas pessoas
- Ando com ele 3 vezes por dia, em uma delas por pelo menos 20 minutos (ele fica cansado então sei que é suficiente)
- Não nos despedimos dele, nem damos atenção quando ele está muito feliz quando voltamos
- Finjo que saio e não saio
- Saio por períodos de tempo variados, várias vezes em um dia
- Dou um pestico para ele sempre que saio (este não foi muito efetivo porque ele não é do tipo que dá muita importância pra comida)
- Deixei algumas roupas usadas no mesmo cômodo (acho que isso nunca funciona xD)
- Deixamos uma gravação nossa conversando, mas ele percebeu que não estávamos em casa
- Deixamos o rádio tocando música, mesma reação
- Achávamos que ter o gato perambulando eventualmente pela casa o faria perceber que não está sozinho, mas nada mudou e o gato também não dava a mínima atenção para ele, haha
- Comprei brinquedos novos e dava antes de sair, ele ainda gosta dos brinquedos mas não mexe neles quando está sozinho
- Comprei uma coleira anti latido que apita e, depois de algumas repetições, dá um choque leve. O problema é que ela não funcionava com uivos e acabamos devolvendo-a. Mais tarde li em algum lugar que a coleira poderia causar o efeito inverso e deixar o cachorro ainda mais ansioso.
- Tentamos usar uma técnica que vimos em um video do Cesar Milan de acostumar o cachorro a ficar deitado em uma cama enquanto você sai com energia calma e assertiva e tal, indo e voltando até que ele fique lá quieto e parado. Não funcionou muito bem porque era terrível para ele nos ver saindo pela porta, então o adaptamos para que ele ficasse no quarto, que fica com uma grade encostada no batente. No começo ele derrubava a grade, depois parou. Acostumamos que o quarto é o cantinho seguro dele e é lá que ele vai ganhar carinho se estiver calmo.

Em um mês e pouco nada disso foi muito efetivo e parecia não fazer efeito algum, já que não estávamos vendo nenhum progresso. Foi bem difícil manter a esperança nesse período! Pouco a pouco alguns sinais bem sutis foram aparecendo: ele uivava algumas vezes menos, ele demorava uns 15 minutos para dar o primeiro uivo e ele parou de destruir as coisas, ufa!

Depois disso começamos a perceber sinais melhores, diminuindo os uivos e demorando para soltar o primeiro. Até que um dia fingi que sai e ele não se manifestou. Não sei se ele sabia que eu não tinha saído ou se já era um baita avanço de desapego. Então eu e meu noivo saímos por uma hora, deixamos gravando e nenhum uivo, só alguns chorinhos! Nossa, foi uma vitória e tanto!

Já conseguimos ir no cinema sem nenhuma ocorrência de destruição ou uivo! Ele ainda choraminga às vezes, fica nos esperando muito e se a gente não der um tempinho faz aquela festinha louca, mesmo sem ter atenção de volta. Sabemos que não podemos deixar de exercitá-lo porque ele ainda tem o que ser consertado e, mesmo depois, não queremos que ele tenha uma recaída. Pode parecer que você está sendo frio com o seu cachorro, mas na verdade você está fazendo isso para que ele seja mais independente, equilibrado e feliz, já que sabemos que não poderemos dar atenção ou levá-lo junto para qualquer lugar sempre.

Cada cachorro vai ter o exercício que vai funcionar melhor, para o Luke com certeza são os 6 primeiros exercícios e a adaptação da sugestão do Cesar Milan, em especial a parte das caminhadas. Andar com o seu cachorro e esgotar um pouco da energia física dele com certeza o deixa mais calmo e é preciso fazer isso todos os dias, não somente no dia que ele precisar ficar sozinho; isso faz muito bem para eles no geral. Talvez para alguns os sons gravados e os petiscos funcionem bem também.

Outra coisa que deve ter melhorado é que ele foi se adaptando à nova rotina, aceitando uma nova casa e uma nova configuração de família.

Vou dizer que não foi nada fácil, que na verdade ainda não está sendo. Demorou muito tempo, precisou de muito esforço diário para cumprir os exercícios, muita paciência e deixar de sair para muitos lugares só pra ter uma melhorica de nada! Mas vale a pena, novamente, se é para o bem estar dele.